quarta-feira, 24 de junho de 2020

Significados e Ordem

Então, mais de 2 anos sem postar nada aqui, exatamente durante o período que estou no curso de Filosofia, parece irônico estar num curso de Filosofia e ter parado de "filosofar" no meu blog. Me parece que, de algum modo, estudar filosofia profissionalmente me tornou mais receoso de escrever autonomamente sobre Filosofia, ou melhor, mais receoso de "filosofar" por conta própria, de ter um pensamento mais independente dos clássicos e dos autores da universidade, mas é isso que vou tentar fazer hoje novamente, depois de um tempo.

As vezes me vêm o seguinte questionamento, e se não existisse ordenamento algum no universo? E se as coisas simplesmente não fossem possíveis de serem "significadas" ou "interpretadas"? Podemos questionar se o significado que damos as coisas realmente são os significados que elas têm, ou se são apenas ficções que criamos para nos auxiliar a lidar com o mundo, mas independentemente do significado real dos objetos da realidade, e aqui incluo as leis da física, a matemática e todas ciências, parece que não podemos negar que a realidade tem ALGUMA ordem e portanto algum significado. Isso acontece porque caso não tivesse, a nossa própria existência enquanto seres que "significam" e pensam não seria possível, uma vez que para pensar é necessário relacionar certos sentidos, mesmo que esses sentidos sejam totalmente ficcionais. Assim, ainda que a realidade "externa" a nossa consciência não fizesse sentido algum, e nossa mente criasse todos significados, pelo menos no nosso pensamento e na nossa consciência esses significados ainda existiriam.
Se acreditamos que a nossa mente não tem uma configuração material completamente diferente do resto das coisas do universo, ou que ela não seja a única coisa "ordenada" a existir, então podemos acreditar que a realidade também conserva certa ordem. Aqui relaciono ordem e significado, considero que uma vez que algo é ordenado de alguma forma, é possível que seja atribuído algum significado àquilo, mesmo que seja um significado não real, não exista na realidade externa a mente, mas me parece muito difícil negar completamente o ordenamento de todas as coisas existentes.
Mas mais uma vez me pergunto, agora trocando significado por ordem, será que essa ordem está na natureza? Ou a nossa "configuração mental" é feita de tal forma, que sempre vai encontrar alguma ordem nas coisas? Nossa mente discrimina o mundo ao nosso redor, mesmo que inconscientemente, estamos desde quando nos lembramos observando as diferenças entre uma coisa e outra ao nosso redor, essa nossa capacidade de discriminar, me parece, é a primeira etapa para criar um ordenamento nas coisas, ou melhor, é a primeira etapa para relacionar de alguma forma o que é diferente, essa relação é a ordem que observamos, e essa ordem permite a significação. Fica a dúvida se, ainda que o universo não tivesse ordem nenhuma, se as coisas não tivessem relações alguma entre si, se nossa mente ainda seria capaz de criar essas relações, e assim dar um sentido ao seu próprio universo, permitindo novamente chegarmos ao universo como conhecemos ele. Se isso for possível, se a nossa mente realmente cria as relações entre as coisas, e portanto a ordem entre as coisas de forma puramente ficcional, podemos agora mesmo estar vivendo em um universo completamente falso, fabricado pela nossa própria mente. Como verificar então, se os sentidos que damos as coisas, o arranjamento que damos às nossas percepções, são de alguma forma correspondentes na realidade? A ciência se encaixa perfeitamente nessa questão, pois ela se coloca como capaz de prever os acontecimentos da realidade com uma grande exatidão, ou seja, ela é capaz de fazer com que o universo nos entregue materialmente os significados que esperamos ter dele, e assim ela pode provar nossos significados (as teorias), pelas experiências. Ainda que não com 100% de certeza.
Então, aqui novamente parece que podemos provar que existem certos significados na realidade, os significados verificados pela ciência, ou melhor, a ordem verificada pela ciência, pelas nossas experiências em última instância.
Ainda assim, no entanto, se toda ordem do universo fosse dada e criada pela nossa mente, poderíamos ser capazes de impor essa ordem na realidade? E assim, "comprovarmos" teorias  que não encontram de fato correspondência na realidade, simplesmente porque somos capazes de criar significados "materiais" ou "observações"? E não apenas aqueles significados subjetivos que não se verificam na realidade? Se somos capazes de criar significados materiais, a ciência poderia ser toda uma grande criação de teorias a partir de coisas que não tem ordem alguma, ou falando de outra forma, nossas experiências mundanas não comprovariam nada a respeito do mundo, mas apenas a respeito do nosso modo de lidar com ele. E consequentemente, o nosso universo como percebemos, poderia muito bem não ser como o percebemos, mas apenas uma ilusão criada pela nossa "compulsão" em organizar as nossas percepções com certos objetivos.
Em última instância, a dúvida que se mantém é, a ordem como a percebemos no mundo, tem alguma relação com a ordem real do mundo? E existe essa ordem real? Ou criamos ela completamente, se até mesmo as teorias e as experiências que verificam essa ordem externa são também criadas? Não estou negando a ordem do nosso pensamento ou da nossa consciência, sem esse ordenamento "interno" não seríamos capazes se quer de conceber uma ordem externa, mas a existência própria da ordem externa se mantém uma dúvida, uma vez que parece depender do nosso ordenamento interno, da nossa forma de perceber as coisas e em última instância do funcionamento da nossa mente. 

Read more...

segunda-feira, 28 de maio de 2018

A Falácia do Bem Maior em Aristóteles

Analisando a Ética Nicomaqueia de Aristóteles no livro 1, vemos uma possível falácia que até hoje segue sem plena solução.


          Uma possível reconstrução da falácia seria a diferença entre as duas seguintes frases “Há um sapato para todo pé” e “Para todo pé há um sapato”, a primeira expressa que existe um único sapato no qual todo pé serve, e a segunda expressa que todo pé serve em algum sapato, não necessariamente o mesmo.
      É dito que cada ação que o ser humano pratica é feita visando um fim, que é um bem,
 “Considera-se que toda arte, toda investigação e igualmente todo empreendimento e projeto previamente deliberado colimam algum bem, pelo que se tem dito com razão, ser o bem a finalidade de todas as coisas”
e esse bem pode ser tanto um fim na própria ação ou com um fim diverso da ação, tendo a ação como meio. O que se discute é se existe um único fim (e um único bem) para todas as ações, se esse bem seria melhor e superior a todos os outros bens, ou se existem vários fins não conectados entre si, criando muitos bens que não estariam necessariamente subordinados entre si.
É dito que um fim (que pode ser uma atividade) que seja desejada por ele mesmo e não em razão de outro é superior a um fim que seja desejado como meio, dessa forma o bem proporcionado por esse fim seria superior aos outros bens.
A razão de que porque devem existir fins que sejam desejados por eles mesmos é que, sempre que desejamos algo, desejamos por algum motivo, esse motivo é o “fim” do desejo, que nos proporcionará algum bem, buscamos esse bem. O motivo de agirmos para buscar ou escolher algo é porque temos um ponto de conclusão em mente, e esse fim (bem) pode ser suficiente por si só, mas uma vez satisfeito aquele fim, podemos ir buscar outros fins (bens) não necessariamente conectados àquele anterior. Porém, se nunca tivéssemos um fim em mente, nunca agiríamos, não existiria desejo, não existiria motivo para ação. A existência de “fins” que tenham significado por si mesmos se justifica porque é a forma que pensamos quando agimos, ainda que, para alcançar um último fim possamos passar por um processo de muitas ações e fins menores.
Exemplo: se elegemos como fim ser rico, é necessário cumprir uma série de ações anteriores à concretização desse objetivo, são elas; estudar, buscar empregos, economizar etc. Cada uma dessas ações poderiam, eventualmente, ser um fim nelas mesmo, mas nesse caso não são, mas são usadas como fins meios para o “fim final” que seria ser rico.
Acontece que ser rico também pode ser um meio para outro fim diverso, como poder viajar muito, então, de certa forma, é possível que muitas vezes um fim seja um fim por si mesmo e também seja um fim meio para algo, mas é necessário a existência de fins em si mesmos para justificar a ação inicial.
Também é necessário que essa cadeia de meios e fins não seja infinita, porque uma vez que fosse, nunca teríamos um “fim” ao qual guiar nossa ação inicialmente, em algum momento temos que ter um fim em si mesmo que guie o início da nossa ação, caso contrário não agiríamos, por que se assim fosse, nenhum fim se justificaria, sempre dependeria de outro e assim por diante.
Daí o excerto
Se, então, há algum fim das coisas alcançáveis pela ação humana [prakta] o qual queremos devido a ele mesmo, e as outras coisas devido a ele, e se não escolhemos tudo devido a algo diferente (pois assim vai-se ao infinito, de modo que o desejo é vazio e vão), é evidente que isso seria o bem [agathon] e o melhor [ariston]”.
O debate que surge a partir disso então é, aceitando que existe um último fim, autossuficiente, superior a todos os outros e que seria o mais desejável, se esse fim inclui os outros, os satisfaz, ou se é uma alternativa a eles, sendo melhor que eles, mas não os incluindo.
A primeira alternativa seria o fim inclusivo, porque inclui em si todos os fins e ações anteriores, essa é uma possível interpretação do texto de Aristóteles, nesse fim a felicidade (eudaimonia) seria um bem supremo que encadearia todos os desejos e fins, e todos eles levariam em nível último ao bem maior, a felicidade.
A segunda alternativa seria o bem dominante, pois muitas vezes Aristóteles coloca o fim ultimo em comparação aos outros fins, como se fosse possível escolher entre ele e os outros, como uma alternativa, dessa forma esse fim superior seria uma alternativa e não contemplaria todos os desejos.
Acredito ser difícil liberar Aristóteles da falácia inicial, visto que é difícil provar que todos os fins necessariamente tem uma relação de subordinação entre si, embora muitos o tenham, dessa forma é difícil levar todas as “linhas causais” de atividades e fins a um ponto final comum a todos.

Read more...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Quem sou eu

Volta e meia passo por uma espécie de crise de identidade.
Não chega a ser uma crise no sentido mais drástico da palavra, a vida segue, o que muda é minha motivação nesses momentos.
As vezes tenho a impressão que sou uma coisa, uma personalidade mais automática que se acostumou a lidar com as situações e com as pessoas de determinada forma.
Em outros momentos sou confrontado com um eu totalmente diferente, mais jovial, confiante, ousado, alegre.
Esses "eus" são extremamente contrastantes, e muitas vezes, talvez na maioria delas, me vejo preso ao eu mais antigo, mais fixo, menos maleável, mais preguiçoso, que consegue acabar com a graça das coisas, que não tem tanta força vontade de fazer coisas, nem tanto brilho nos olhos.
Esse "eu" que considero mais antiquado, gosta de se fazer ouvir, gosta de se sentir importante, gosta de sentir que agrada os outros, que é respeitado, que é firme e convincente, mas por baixo revela uma insegurança na sua forma de agir gigantesca.
O "eu" alternativo, mais alegre e motivado, não precisa da aprovação dos outros pra ser feliz, não precisa passar uma imagem de firmeza e confiança, ele simplesmente "é", e se sente feliz assim.
Esses 2 "eus" principais entram em conflito, porque um parece ser mais hábil em lidar com a vida como ela parece ser, mais dura, rígida, cheia de convenções sociais e obstáculos. Esse "eu" parece acreditar que a única forma de seguir e ser respeitado, é passando uma áurea de confiança e determinação,  tende a se fechar em si mesmo, embora goste de um público que o observe, e evita relações muito próximas com os outros.  Mas isso é muito mais uma encenação desse "eu" do que uma realidade; no fundo ele quer aprovação, ser bem visto, porque essas são qualidades que quando percebidas a sociedade aprova e ele almeja essa aprovação. Ele é o ator que gosta da plateia, contanto que ela continue plateia, não suba no palco, não contracene, porque ele tem medo disso, mas que aplauda quando ele faça algo admirável. Esse 1° "eu" é mais ranzinza, preconceituoso, precavido, sempre pensando no que as ações presentes podem acarretar, mas ele não consegue ser eficiente nesse papel, porque se preocupa demais e estagna, se tornando preguiçoso e insatisfeito, porque vive querendo e julgando as coisas.
O "eu" mais alternativo, tem uma motivação intrínseca, motivação essa que não precisa de muita aprovação ou de muito pensamento no futuro, mas esse "eu" some tão rapidamente quanto surge, quando a vida mostra a sua face mais dura, ele não sabe lidar, entre em crise, e um dos primeiros passos dessa crise é quando começa a se preocupar com o futuro, e do futuro, quem acha que entende é o eu ranzinza.

Pode o "eu" alegre e motivado dominar a personalidade e aprender a lidar com as situações mais complicadas e que precisam de mais responsabilidade? Pode o "eu" motivado não se sentir culpado de ser alegre e natural, e ainda assim perseguir seus objetivos? Pode esse eu se expressar sem ter medo da aprovação social? Afinal, se ele, eu, estou fazendo o que considero correto, e estou me esforçando pra tornar meus sonhos em realidade, não há porque temer os outros.

Uma outra capacidade interessante desse eu motivado é a sua maior abertura as pessoas, ele se preocupa mais em entender e estar com as pessoas, em trocar com elas, do que em aparentar ou parecer alguém de confiança e respeito. O problema é que ele é também muito sensível, ao primeiro sinal de rejeição ele tende a se fechar, e aquela troca natural se torna uma vontade de mostrar que ele também tem algo de valor a oferecer.

Acredito que uma grande questão a ser respondida é, o que desmotiva o "eu" motivado? E porque ele não pode continuar motivado, mesmo com as mais variadas dificuldades.

Read more...

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Com expandimos nosso conhecimento

Ultimamente tenho refletido sobre e percebido melhor a incrível tendência minha e das pessoas de uma maneira geral a apenas aceitar conhecimento quando vindo de determinada fonte, de determinada de pessoa, de um professor ou de um amigo que considere muito inteligente.
Por mais que queiramos muitas vezes realmente expandirmos nossos conhecimentos e melhorar nossa vida, nossa forma de agir, continuamos achando que o conhecimento verdadeiro deve vir sempre de uma fonte x.
Seja uma pessoa muita religiosa que se determinou a estudar a fundo a sua religião como maneira de se iluminar, e que acredita que o verdadeiro conhecimento só pode ser descoberto se vir também da sua fonte religiosa. Seja seus livros sagrados, ou os sábios da sua religião.
Isso provoca um grande paradoxo, ao mesmo tempo que queremos melhorar e expandir nossos conhecimentos, nos limitamos quanto a forma de fazer isso.
Devemos questionar e expandir não só um número limitado de questões que preconcebemos como importantes para expandirmos nossa mente, mas se queremos realmente expandir nossa mente, devemos aceitar que tudo pode e deve ser questionado. É importante reparar que isso é diferente de dizer que tudo é relativo, mas que tudo pode ser relativizado a fim de encontrarmos o que é verdadeiro e o que não é.
Todo conhecimento, toda certeza, tudo tem vários lados e varias interpretações. Por mais certos que estejamos sobre determinado assunto, sempre vai ter outra pessoa para pensar exatamente o contrário de nós, isso quer dizer que todas questões devem ser analisadas de todos os ângulos possíveis, e então, depois de estudados esses pontos de vista, escolhermos um que nos pareça mais verdadeiro.
Na física é dito que um movimento é relativo a um observador, a velocidade é relativa a um observador que também está no espaço, e dependendo de como ele está se movendo ele vê esse movimento de um objeto de uma forma diferente. O mesmo se aplica aos pontos de vista, sempre estamos observando um ponto x de uma perspectiva y, e isso nos da apenas uma face de x, a face de x que nossa perspectiva nos permite observar. Ter a capacidade de sair da perpectiva y e entender como esse ponto x pode ser observado de varias outras perceptivas, h, j, i, expande nossa compreensão sobre aquele ponto.
Mas é importante compreender que, como estamos em busca de um conhecimento verdadeiro, ou seja, de uma perspectiva correta, eventualmente, depois de observar diversas perspectivas, vamos nós novamente ver o ponto de uma perspectiva nova, a w, por exemplo, não tem como fugirmos disso.
Então, ao procurarmos expandir o nosso conhecimento, não podemos limitar o ponto de onde partimos, ou seja, achar que apenas podemos descobrir a verdade observando os fatos a partir somente do olhar de um líder, intelectual, ou filósofo, e que apenas pessoas desse grande porte podem nos trazer conhecimento verdadeiro. É importante expandir as possibilidades desde o começo, e então, ir afunilando, em busca de uma verdade mais unificada, utilizando para isso a nossa razão.

Read more...

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O Direito Natural de Brilhar



Todos temos o direito natural de ser quem somos no nosso mais intimo ser, expor nossas vontades, medos, traumas, mas acima de tudo, nosso brilho pessoal ao mundo.

Isso não significa esquecer que vivemos em sociedade e que devemos respeitar o próximo assim como queremos ser respeitado, mas também não significa se rebaixar, se ajoelhar a regras e tradições ultrapassadas de tempos imemoráveis que ainda hoje impedem os seres humanos de ter coragem de ser quem são, e quando tem coragem, essas mesmas regras tentam a todo custo cerceá-lo, contê-lo, tentam convencê-lo de que o mundo funciona de tal maneira, e que é só não forçar muito as paredes desse mundo, que vai ficar tudo bem.
Acontece que pra muitos essas paredes se tornaram demasiadas apertadas, as restrições que lhes foram  impostas ao longo do tempo lhes deixaram marcas, e hoje eles não estão mais satisfeitos em ficar contentes por estarem vivos, por terem amigos e terem um emprego, eles querem ser quem são, sem amarras, sem restrições, assim como muitos outros muito mais facilmente aceitos pela sociedade já o fazem a muito tempo.
É óbvio que enquanto as regras conservadoras que regem a sociedade continuarem existindo, ainda sentiremos seu peso, as pessoas que ousarem tentar se expressar, ser ou fazer o que não é visto por muitos como respeitoso, saudável, e correto, perderão oportunidades e talvez até sejam impedidas de fazer certas coisas, mas isso de maneira nenhuma os deve impedir de seguir fazendo, sendo e expondo o que são, porque ninguém deve ser punido por fazer coisas que não prejudicam o outro.

Nenhum negro deve ser impedido de frequentar lugares, usar o cabelo de determinado jeito ou ser menosprezado pela cor da sua pele, de que modo isso prejudica alguém? De que modo isso é falta de respeito?

Nenhum gay deve ser impedido de beijar outro, ou andar de mãos dadas, de braços dados, porque isso teoricamente é errado para sociedade. No que isso prejudica alguém? No que isso atrapalha alguém? Muitas pessoas não gostam de ver homens juntos simplesmente porque foram ensinadas que isso era errado, mas nunca deram um argumento realmente sensato pra tal argumento. "Não reproduz" Ok, e no que isso te prejudica? "A bíblia diz que é errado." Tu quer impor os dogmas da tua religião aos outros? "Má influência para crianças." Primeiro, porque é má? Porque é errado ser gay? Segundo, se o pensamento inverso funcionasse, ou seja, se toda criança que visse casal hetero se pegando se sentisse influenciado e virasse hetero, não existiriam gays. E a influência hetero não está só nos casais, está nos filmes, nas novelas, nas conversas, todo mundo é ensinado que o certo é "menino e menina", achar que um ou outro casal esporádico vai ter uma influência mais forte que de toda sociedade heteronormativa é faltar com a lógica. Já é cientificamente provado que ninguém é influenciado a ter uma sexualidade, ela está ali, latente, a qualquer momento vai se manifestar, independente da influência, sem contar os muitos casos de casais gays com filhos héteros.

Nenhuma mulher deve ser impedida de andar com a roupa que quiser sobre o pretexto de ser chamada de promíscua, piranha etc. A roupa dela não está te atacando, a roupa dela, não está te impedindo de nada, o teu julgamento e a influência dele que estão impedindo a liberdade dessa mulher.
Nenhuma mulher deve ser impedida de dar opinião, de falar, ou se expressar como bem entender, sobre pretexto de estar se mostrando demais, ou qualquer besteira desse tipo. Mulher pode ser "masculina", pode ser "feminina", pode ser como quiser, isso não deveria afetar ninguém nem causar qualquer julgamento de caráter, ou de capacidade dessa pessoa. É impressionante a liberdade que se da aos homens de falar alto, de comandar, enquanto se uma mulher tenta fazer isso, está se achando, está saindo do seu direito natural, isso é incabível numa sociedade que se diz moderna e racional.
O que tu sente ameaçado quando vê uma mulher falar alto e dar ordens? O teu direito único de ser masculino? O teu direito natural a se impor? Alguém está o impedindo de exercer essas características? Ou simplesmente ver uma mulher se igualando a ti, se enche de pavor e insegurança?

Qualquer pessoa vai defender o respeito ao próximo, mas na prática o que vemos é a falta de respeito, muitas vezes não tão óbvia a ponto de atacar alguém, mas nas conversas, nas fofocas, nos pensamentos preconceituosos, o ser humano tem que entender de uma vez por todas que a maior parte da nossa tradição e cultura são irracionais, e que se o objetivo de muitas delas era promover a ordem e o respeito, é exatamente nesse ponto que elas pecam, erram, e se tornam armas de respeito e desordem na sociedade. 

Read more...

sábado, 1 de outubro de 2016

Cansado

As vezes eu me sinto profundamente cansado das pessoas, das suas mesquinhezas, de suas cabeças duras, de suas intrigas sem sentido, do seu falso senso de justiça.
As pessoas podem ser incrivelmente cruéis e imbecis sem perceber, mesmo as mais próximas.
Mas ao mesmo tempo que eu me revolto com atitudes mesquinhas, eu me revolto com a falta de compressão com os erros dos outros.
Todos somos humanos e estamos a merce de cometer os mesmos erros, ninguém é perfeito, e todos erram. Isso não exime ninguém dos seus erros, não tira as suas responsabilidades sobre o erro, mas é um caminho para a compreensão.
Me sinto nesse limite entre entender o outro e ficar profundamente afetado pelas suas formas de agir.
Eu não deveria me importar tanto com as ações dos outros, de fato, eu não deveria nem me surpreender mais com a forma padrão de agir das pessoas. O problema reside em ver os mesmos erros se repetindo.

No fundo eu não consigo me compreender, os outros me irritam por agirem como agem, eu quero mostrar pra eles que estão sendo inconsequentes, quero que admitam que estão errando. Mas eu erro também, e dos meus erros, espero compreensão.

Eu estou cansado dessa dinâmica, cansado de ter que lidar com as pessoas e seus problemas, com os meus problemas, de tentar explicar para o outro o que se passa na minha cabeça, e de tentar entender o que os outros pensam, e tentar entender por que agem da forma que agem.

Cada pessoa tem um mundo complexo dentro de si, um conjunto de formas de agir motivado por um conjunto de questões psicológicas que a pessoa desenvolveu e vai desenvolvendo ao longo da vida. 

Tudo isso me cansa, me entedia, eu não quero entender, eu não quero saber, eu não quero que me entendam. Eu só quero ser, sentir, estar, independente de todos e de tudo aquilo que me causa dor e confusão.
Me parece um pensamento bastante egoísta, "eu não quero saber do teu problema, não me incomode, e também não quero presenciar o quão idiota você consegue ser."
Mas isso não é pra uma pessoa específica, é pra tudo, para todos, para sociedade e seus padrões, estou cansado disso.

Read more...

sexta-feira, 6 de maio de 2016

A Razão Verdadeira como Forma de Conhecimento e Entendimento entre as Pessoas


Ultimamente não tenho sido a pessoa com a visão mais fácil da realidade.
Todas minhas reflexões anteriores, se multiplicaram e formaram novas reflexões, baseadas nas antigas, mas ao mesmo tempo bem mais complexas.
Complexo não é necessariamente certo ou bom, pode ser só um monte de enrolação ou invenção, mas vamos a elas.

(Se você não quer ler a versão estendida e detalhada, no final tem uma versão resumida em negrito!)

Explicando um termo que vai ser bastante usado no texto:
Visão de Realidade: Conjunto de todos os nossos paradigmas, dogmas, impressões que temos do mundo, certezas que temos em relação a como ele é e se comporta. Aí também entram nosos preconceitos.

Primeiramente cada pessoa tem sua visão da realidade, isso nós dizemos saber, mas até que ponto nós realmente podemos entender que a visão que o outro tem pode diferir radicalmente da nossa?
Embora intuímos  que seja diferente, sempre pensamos que essa visão diferente pode ser explicada pela nossas razões,  pelas nossas regras, mas isso é uma ilusão. Mesmo quando percebemos algo ou alguém diferente na nossa vida, impomos sobre aquele algo ou alguém nossa própria visão do mundo.
Mesmo se aquela pessoa ou objeto for muito diferente, mesmo sem uma análise mais profunda, na maioria das vezes acreditamos saber porque aquele algo é diferente ou age de maneira diferente da nossa, então no final aquele algo para nós deixa de ser realmente diferente, ou inusitado, ousamos achar que entendemos o diferente e porque ele é diferente, mas de fato, para realmente entender algo diferente como ele realmente é, exige um trabalho muito mais difícil, que em primeiro lugar pedi algum desprendimento das nossas crenças.

Minha reflexão em relação a isso veio da observação das pessoas, colegas, amigos, nós nos acostumamos com eles, nos acostumamos com as suas formas de agir, e de certa maneira por saber como eles vão agir em determinadas situações, ou como vão responder a determinadas perguntas, ousamos saber as verdadeiras motivações daquela pessoa.

Ou seja, nosso cérebro sabe parte do processo, o das ações e reações, e inconscientemente põe razões que são nossas pra as ações dos outros.

O ser humano é muito bom em fazer isso, em impor suas razões sobre coisas que muitas vezes realmente não compreende. Fazemos isso desde a época da pré-história, quando olhávamos para as nuvens no céu e por chover ou não chover dizíamos que isso tinha alguma razão superior, e essa razão seria os Deuses estarem bravos ou não conosco.
Conseguimos até certo ponto superar essa tendência, de impor razões metafísicas a eventos naturais. Isso foi possível através da ciência, ela nos deu explicações, razões (ou causas, vou usar como sinônimos), muito melhores do que aquelas que supomos, e isso só foi possível através de uma análise próxima dos objetos, ou seja, simplesmente pela nossas reflexões internas não éramos capazes de descobrir as verdadeiras causas daqueles eventos, tínhamos que realmente avaliar o ambiente, com atenção, testá-lo, para conseguir descobrir as verdadeiras razões por trás deles. A física, a meteorologia e outras ciências nos mostraram que os fenômenos naturais na verdade tem explicações totalmente racionais e bem mais palpáveis que deuses.

Assim que os fenômenos naturais passaram a ser explicados por razões científicas deixamos de colocar neles nossas razões fantasiosas. Mas nós não aprendemos a parar de fazer isso, não aprendemos porque é natural do ser humano fazer isso, e logo passamos a colocar nossas razões nos animais, no caso animais domésticos, muitas pessoas ainda acreditam serem plenamente capazes de entender os pensamentos mais íntimos dos seus animais de estimação já que descobriram os seus padrões de ação. Mas repetindo, o padrão pode existir, mas quem vai impor razões, "porquês" somos nós mesmos! Nós vamos fazer isso. Então nos enganamos achando que o bichinho nos ama, ou que ele pensa e observa como nós pensamos e observamos, quando é cientificamente conhecido que o cérebro de um animal é muito mais simples que o nosso. Mas, mesmo que não fosse, mesmo que fosse tão complexo quanta o nosso, ainda assim não poderíamos impor as nossas razões aos animais, se fosse tão fácil descobrir as razões/motivações/causas por trás de uma mente complexa, não existiria as ciências da psicologia, que nos mostram que os processos mentais são muito mais difíceis e imprevisíveis do que achamos observando somente suas reações.

Voltando ao ponto do texto, colocamos razões em tudo, simplesmente porque somos capazes de identificar padrões, e fazemos exatamente o mesmo com as pessoas, nossos amigos, colegas, identificamos padrões nas suas ações, e muitas vezes sem muita reflexão impomos neles nossos motivos de por que eles agirem de determinada forma, transformando a pessoa num grande espantalho, num ser sem individualidade, num ser que dificilmente esperamos mais do que já conhecemos dele. E quanto mais preguiça ou falta de vontade de realmente entender as pessoas a nossa volta, mais espantalho e ridículo se tornam os seres que críamos, principalmente quando não seguem aquelas ações que ousamos supor que são as normais, ou seja, quando são muito diferentes de nós.

Chamando atenção pra alguns extremos dessa forma de agir. Algumas pessoas se isolam das outras por não entender porque as outras agem como agem, por não concordar com elas, e por isso se refugiam em um lugar seguro onde suas ideias prevaleçam e sejam as dominantes, nem que seja na sua própria casa sozinho. Essas pessoas tem forte pretensão de por falta de sociabilidade ou interesse, criar espantalhos das outras pessoas, e assim perder a noção de como a sociedade realmente é configurada.
Outras, vão criar grupos, aproximar pessoas que pensam de forma semelhante, e em casos extremos, não aceitar quem pensa diferente, novamente criando espantalhos daqueles que estão fora desse grupo.

Por exemplo, em um grupo ou sociedade onde todas pessoas realmente são muito parecidas e pensam de maneira semelhante, a sua versão das pessoas realmente pode chegar muito perto da versão real do outro (mas até isso é discutível, como vai se ver aqui depois) , e isso torna o convívio fácil, por que o padrão que criamos pra aquela pessoa segue o aparente pensamento daquela pessoa. Agora, a partir do momento que uma pessoa desse grupo vai pra outra sociedade, outro países, ou outro grupo com costumes bem diferentes, o choque acontece. Normalmente é dito que é por que são culturas diferentes, mas mais do que isso, são formas de pensar diferentes, são maneiras diferentes de interpretar a realidade e racionaliza-la, e é importantíssimo termos noção que essas formas podem fugir totalmente do que estamos acostumados e podem ser muito difíceis de compreender.

Voltando a esse hipotético turista, ele tem duas opções ao se deparar com o choque, ou tentar entender a cultura e o pensamento daquele grupo de pessoas, se aproximando delas, conversando com elas, observando de perto os detalhes e a forma que se comunicam, seus costumes, através de um estudo prologado e o mais imparcial possível; ou ele pode simplesmente observar sem muito interesse, acreditando que, de alguma forma, aquela cultura, aquelas formas de pensar, não são muito diferente das suas próprias, pois são seres humanos, e seres humanos se não totalmente iguais, são muito parecidos, e por isso, são em certo nível previsíveis em seus pensamentos, certo? Errado! É essa falta de noção, essa incompreensão que causou tantas matanças em países colonizados. Os europeus em sua maioria não estavam realmente motivados a entender os povos que encontravam, criavam uma versão simples e fácil de entendê-los, por que tinham a religião que tinham, e facilmente, sem muita reflexão, declaravam elas erradas, equivocadas, demoníacas, e impunham a sua vontade, o seu certo e o seu errado. Tentavam arduamente substituir as suas razões sobre as razões dos povos "primitivos", e faziam isso a força. Isso por que em nenhum momento buscavam realmente entender aquele povo recém descoberto, cobertos de preconceitos, eles julgavam entender, e não só entender, como saber que eram erradas as suas formas de pensar.

O ponto que quero chegar e que é extremamente importante que entendamos é que:

* Existem formas de pensar radicalmente diferente das nossas, e que por serem tão diferentes, não necessariamente são malucas ou erradas.

* Que entender o outro é muito mais que conviver com ele, e supor entender suas formas de agir e pensar, entender o outro requer realmente atenção, aproximação, conversa, diálogo. Mesmo a pessoa mais próxima de nós pode pensar muito diferente de nós, mas podemos não perceber, pois suas ações não são diferentes das que esperamos.
Porque pensamentos muito diferentes  (pessoas com pensamentos diferentes) podem sim acabar por estabelecer padrões de ação muito semelhante, mas não necessariamente causadas pelas mesmas razões. Vários caminhos que levam ao mesmo lugar.
Assim a pessoa age igual a outra, mas não pelos motivos que as pessoas acreditam.

* Não ouse criar seus espantalhos das pessoas, não ouse achar que alguma pessoa realmente é tão simples como você pensa, não ouse menosprezar outras culturas, só por que baseado na sua forma de pensar, elas parecem filosoficamente inferiores. A aproximação e o diálogo são muito necessários pra conseguirmos notar as pequenas nuances da personalidade das pessoas, que tornam elas tão diferentes uma das outras.

Teoricamente sabemos que todos são diferentes, complexos, e individuais, mas isso só é verdadeiramente percebido através da reflexão e aproximação acurada e sem preconceitos do outro. Muitas pessoas se dispõe a fazer isso, mas são poucas, pelo que vemos no mundo, o que menos tem existido é a vontade de realmente compreender o outro, as pessoas se tornam egoístas, munidas de um ego gigante, onde o mundo só pode ser reflexo da sua maneira de pensar. Não ousam supor que tudo pode ser radicalmente diferente do que acham. Criando guerras, destruição, e desordem.

Nesse sentido a ciência e a filosofia, munidas da razão, são uma luz no escuro, criando entendimento entre as partes, e criando compreensão entre um mar de possíveis razões e possíveis motivos.

Versão resumida:

Tente não ser preconceituoso, aceite que as pessoas podem ser muito diferentes de você, tente entende-las como elas realmente são, não subestime elas, trate elas como você gostaria de ser tratado, com respeito. 

Read more...

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Isso é para os Loucos!

Como sempre, acho que já se tornou um hábito, quando me sinto em um momento meio turbulento venho escrever aqui.
Tem certas coisas que não acho que precisam ser ditas diretamente, por isso as vezes alguns pensamentos podem soar imprecisos, mas pra mim soam claros.

Acho que vivemos, mais especificamente eu, nos importando de mais com a opinião e com as avaliações alheias. Uma vida que se dobra a agradar aos outros está condenada a não ser uma vida "plena", no sentido filosófico da palavra, mas uma vida emulada, uma vida que não é própria, mas que visa satisfazer o que achamos que os outros querem de nós. E isso é uma grande farsa, pois o que há de mais interessante na vida é justamente podermos exercer nossa unicidade, aquilo que nos distingui dos outros, aquilo que nos torna únicos.
Se todos fossem invariavelmente iguais, o mundo não teria a mínima graça, não existiria arte, nem cultura, nem criatividade. Tudo seria mais do mesmo, e ninguém veria o outro como diferente de si mesmo.
O egoísmo é um sentimento ruim, pois supõe que o "eu" é invariavelmente mais importante que os "outros", e numa vida em sociedade não podemos ignorar os outros, pois tudo está interligado. No entanto, o egoísmo é um produto possível do individualismo, e o individualismo não necessariamente precisa ser egoísta. É importante termos noção de nós como indivíduos únicos, ver em nós mesmos traços que nos distinguem dos outros, e não se envergonhar deles, pois como já disse, todos somos diferentes.
A individualidade mantem nossa confiança e fixa nossa existência frente aos outros, não necessariamente entrando em conflito, mas entendendo que num mundo complexo de relações sociais, saber o que se quer da própria vida, e saber defender isso, é tão importante como saber conviver com os outros.
A sociedade de maneira geral vive em vários "status quos", do que é certo, do que é errado, do que é esperado, no entanto, não podemos esperar que esses mesmos status guiem nosso caminho e nossas escolhas. Temos que ousar em fazer escolhas diferentes, ousar enfrentar esses status, mesmo que isso gere algum conflito. Não podemos abandonar totalmente nossos ideais porque uma grande parte não gosta ou concorda com eles, mas temos que ter noção de como nossos ideais afetam a sociedade ao nosso redor, não podemos ser egoístas, mas também não podemos ser imóveis, passivos, a espera da resposta e da solução dos outros.
O conflito de ideais, de interesses, é inevitável, é da nossa natureza humana pensar, criar associações,  ter ideias e  assim acabar por entrar em conflitos por causa delas. Seguidamente algumas ideias e padrões se impõe sobre outros, criando status quos, modos de pensar que passam por osmose de uma pessoa a outra, até achar um obstáculo, os loucos, os diferentes.
Os dito loucos podem ser geniais, ou podem ser monstros que podem por em risco toda a humanidade. Acho que é difícil distinguir Hitler de John Lennon nesse sentido, mesmo sabendo muito bem quem fez o bem e o mal.
Mas no final é a natureza humana, intempestiva e criativa, que tenta a todo momento romper o que está definido. E temos que nos orgulhar dela, ela significa nosso progresso e nosso alvorecer para um futuro mais próspero, com novas ideias, mas também pode significar nosso declínio e nosso fim.
O que seria da humanidade sem sua natureza inquieta e intempestiva, que cria, critica, guerreia e mesmo assim defende a paz.
Por isso nossa individualidade deve ser preservada até certo ponto, não podemos abdicar dela, porque é isso que nos faz humanos.
Isso é para os Loucos!

"Stay hungry, stay foolish!"



Read more...

  ©Template by Dicas Blogger.